Por Hieros Vasconcelos
A missa celebrada na manhã de ontem no Santuário Santa Dulce dos Pobres, em Salvador, reuniu centenas de fiéis em memória ao Papa Francisco, falecido há uma semana, aos 88 anos. A cerimônia, presidida pelo reitor frei Ícaro Rocha, foi marcada por homenagens a um pontífice que manteve uma relação especial com o povo baiano — especialmente por ter canonizado, em 2019, Irmã Dulce, a primeira santa nascida no Brasil. No coração do Largo de Roma, o templo dedicado à religiosa tornou-se também espaço de gratidão e despedida para aquele que, com gestos simples e posicionamentos firmes, aproximou a Igreja dos mais pobres e marginalizados.
“Para nós, essa celebração tem um caráter ainda mais especial, pois somos gratos ao Papa Francisco pelo que ele representou e pela canonização de Santa Dulce”, afirmou frei Ícaro.
Com palavras de carinho e lembrança, a multidão celebrou o legado de um Papa que escolheu caminhar entre os humildes e pelos pobres, algo que ressoa fortemente em Salvador, cidade marcada pela desigualdade. Francisco era visto ali não apenas como líder espiritual, mas como símbolo de esperança. “Ele falava a nossa língua, a da compaixão. Foi o Papa que não teve medo de amar os marginalizados, como Jesus fez”, disse Marinalva Conceição, moradora do subúrbio ferroviário.
Entre os momentos mais tocantes da celebração, que também contou com missas às 7h, 12h e 16h, esteve instantes em que fiéis levantaram fotos do Papa e realizaram orações.
A superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), Maria Rita Pontes, sobrinha da santa baiana, também participou da cerimônia. A gratidão expressa pelo povo baiano vai além da fé. Para muitos, Francisco foi o pontífice que desafiou as estruturas tradicionais da Igreja, defendendo abertamente os pobres, os refugiados, os excluídos e a comunidade LGBTQIA+.
“Ele era o Papa da ternura, das palavras simples, do crucifixo de ferro. Ele pregava amor e não julgamento. Isso é revolução verdadeira”, disse o jovem devoto Rafael Souza, de 24 anos. Na ocasião foi pedido por Frei Ícaro que seja concedido ao Papa Francisco o “descanso eterno”.
Durante a missa, também foi lembrado o apelo final de Francisco por um cessar-fogo na Faixa de Gaza, um grito de paz que ecoou até seus últimos dias. Os fiéis se uniram em oração pelo fim das guerras e pelo início de um novo ciclo de esperança, desejando que o próximo Papa siga o mesmo espírito
de humildade e coragem, livre de dogmas e preconceitos, comprometido com o amor e a justiça.
Dulce
Foi o próprio Francisco quem acelerou o processo de beatificação da freira, reconhecendo nela uma luz viva da caridade cristã. Desde então, Salvador nunca mais foi a mesma.
Ontem, ao se despedirem do Papa, os baianos também agradecem a ele por ter enxergado em sua santa o reflexo mais puro da fé: aquele que vive ao lado dos mais necessitados, distante da riqueza, da ganância e da ostentação. “Francisco foi como Santa Dulce: viveu para os outros. Por isso, seu legado nunca vai morrer”, disse Marinalva.