A falta de roteiro para presidentes da República brasileiros nos últimos anos tem dado mais dor de cabeça ao Itamaraty do que deveria acontecer. Durante o governo de Jair Bolsonaro, foram inúmeras as situações em que a verborragia do ex-presidente colocou o país em uma zona limítrofe sobre o que era aceitável ou não. Neste final de semana, mais uma vez, coube a Luiz Inácio Lula da Silva causar constrangimento na área de relações exteriores. A “linha vermelha” que Israel acusa Lula de passar ao comparar o massacre em Gaza com o Holocausto é apenas mais um exemplo de como não dá para haver improviso sobre declarações sobre conflitos internacionais.
A comparação de Lula não foi direta. É preciso explicitar isso. Porém falar sobre o Holocausto em um contexto de comparação com atuação do Estado de Israel é reforçar o discurso de antissemitismo que justifica a atuação de Benjamin Netanyahu como um “herói” na luta contra o Hamas. O brasileiro errou feio ao traçar esse paralelo e essa barbeiragem deve trazer repercussões graves para o comportamento que o próprio Lula vinha tentando pregar, como de um interlocutor capaz de mediar conflitos em busca da paz.
Netanyahu tem cometido crimes de guerra nesse processo de enfrentamento às células terroristas. Apesar do Hamas e outros braços armados antissemitas que atuam em Israel e no entorno terem que ser responsabilizados pelos atos desencadeados a partir do ataque de 7 de outubro, a forma desproporcional como a população palestina tem sofrido as consequências dessa ação precisa ser condenada.
A fala do brasileiro desviou o foco do problema real, que é a morte de civis em meio a uma guerra que não terá uma solução em curto prazo. Até aqui, Lula vinha fazendo o enfrentamento ao modus operandi de Netanyahu de maneira cuidadosa. Agora perdeu a mão totalmente. E deixa de ter condições de assumir o protagonismo desejado por ele até então. São consequências da ausência de roteiro para assuntos que não são plenamente dominados pelos gestores brasileiros.
Fonte: Bahia Notícias